quinta-feira, janeiro 24, 2008

Paixão

O gosto do sangue quente arranhava sua garganta

Sentiu seus pulsos rasgados

O peso da madeira sobre suas costas

Gritava pelo seu pai

Pedia que perdoasse seus algozes

Tinha a certeza de que eles não sabiam

Enfim olhou para cima e pediu perdão a si mesmo

Um filho bastardo, se prostando perante um pai imaginário

Espinhos dilaceravam sua mente

A dor

A tentação

A fraqueza

A volatidade de seu corpo

Clamou pelo pai

Que não respondia

Sentiu o vinagre macular seus lábios

O açoite temperar suas costas

Urrou

Gemeu

Sofreu

Implorou ao pai que lhe resgatasse

Quis abandonar sua missão

Mas que missão?

Olhou os que zombavam dele

Aqueles que se dispôs a salvar

Mas não viera de um ventre limpo

Os aleijados não voltaram a andar

Os leprosos não voltaram a sorrir

Lázaro não se levantou do caixão

Olhou mais uma vez para o céu

Tentou clamar pelo pai

Mas de sua garganta só saiu sangue

Sentia as dores e o desespero de um homem comum

Viu a chuva lavar sua vida

2 comentários:

Alef disse...

Ousado hein!! Curti o texto... Bem legal mesmo...

Abraço

Tânia disse...

Forte, tocante mesmo.
Foda.
besos!