quarta-feira, novembro 21, 2007

O cigarro e a formiga

Estou no trabalho. Paro por alguns minutos e acendo um cigarro, longe de qualquer pessoa que possa me tecer um discurso sobre os riscos a que um fumante passivo está exposto. Nunca fui nenhum tipo de cruel assassino, pelo contrário, se as pessoas querem se matar, que o façam com sua própria fumaça.

Quando volto à labuta, alguns olhares de desconforto. Que espécie de vagabundo pára o seu trabalho, prejudicando àqueles que dele dependem para fumar um cigarro, um maldito cigarro? Que espécie de imbecil deixa de atender á população justamente no horário de almoço, quando todos abdicam do fútil hábito de se alimentar para ir ao banco.

Enquanto isso, uns batem no peito, almoçam um sanduíche em cima da papelada do escritório às três e meia da tarde, há dez anos sem férias. Paulo Autran morre atuando quase aos 90 anos, a culpa é do cigarro. Executivos, sem almoço, trabalho, quinze horas por dia, enfarte aos 40. Exemplo de determinação.

Porque as empresas de recursos humanos não são obrigadas a exibirem o aviso: “O ministério da saúde adverte, trabalhar é prejudicial à saúde?” Três feriados num período de vinte dias, os taxistas, vendedores e outros profissionais liberais se queixam que é muito. Olham para os empregados privados e dizem: “Que vida de marajá, pode se dar ao luxo de ficar um mês em férias, folgar todos os finais de semana”. Os empregados privados olham para os liberais e suspiram: “Que vida, pode ficar um dia sem trabalhar e não tomar esporro do patrão, deixar de recolher impostos... só dependem de seu próprio esforço.”

Eu devia me dedicar um pouco mais ao trabalho...respeitar o público, me esforçar mais do que todos meus colegas de trabalho. Assim, quem sabe eu consigo uma promoção. A partir daí é só me esforçar cada vez mais, ter menos dia no meu trabalho, menos almoço na minha fome, menos férias nos meus meses, menos semana nos meus finais. Acendo um cigarro e deixo ele me fumar. Vício por vício, prefiro viver uns anos mais.

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