sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Mais uma vítima...

Pois é...

Outro dia ligo a tv e vejo o Datena inflamado falando com o bandido que arrastou um moleque de seis anos. Chamando o cara de vagabundo, safado e o caralho. Agora, põe os dois frente a frente, e quero ver se o Datena é tão macho.
É tão fácil nesse mundo apontar o dedo para alguém e dizer: "vagabundo", "safado". Depois pega seu terninho, vai para casa, toma uma dose dupla de uísque e cai na cama.
Enquanto isso, na favela, Seu João chega em casa, às quatro da madrugada. Toma um gole de água e dorme num colchãozinho no chão do seu barraco. Antes dá um beijo em cada um dos três filhos, que cria sozinho depois que sua mulher os abandonou.
As nove da manhã já está de pé, toma um gole de café preto e já sai para um dos seus dois empregos. Trabalhando como faxineiro durante o dia e segurança a noite, Seu João ganha cerca de R$800,00. Quase R$200,00 gasta em vale-transporte, já que trabalha sem registro e as empresas não garantem o transporte. Com o restante sustenta seus três filhos e manda parte para sua família no Nordeste.
Datena reclama com seu motorista, que ele pegou um caminho onde o trânsito está complicado. Chega no canal estressado, mas tudo melhora na hora do almoço. A escolha é uma churrascaria, onde come o suficiente para sustentar aquele corpanzil todo.
Seu João, abre a marmita na hora do almoço. Arroz, feijão e um ovo frito. Mas ele começa a pensar que o começo do mês está próximo, e vai comprar um quilo de carne, comer com seus filhos e colocar um bifinho na marmita. Mas só uma vez por mês pode fazer isso.
Datena recebe uma ligação da escola de seu filho de quatro anos. O menino brigou com um coleguinha e tem se mostrado muito agitado, a coordenadoroa sugere que ele procure um psicólogo.
Seu João recebe uma ligação da polícia. Seu filho de dezesseis anos está detido, por tentativa de roubo de carro. Ele contidamente chora. Na primeira vez, quando seu filho, aos 14 anos roubou o walkman de seu colega de classe, Seu João pensou em lhe castigar. Mas ele passava o dia todo fora, não tinha como controlar o menino. Quando ficou sabendo que seu filho fumava maconha, mais uma vez lamentou não estar por perto. Quando ele foi pego com cola de sapateiro, verteu lágrimas ao falar com o delegado... tinha vontade de largar tudo e sumir com o menino para o Nordeste. Mas as coisas lá estão piores do que aqui.
Enquanto isso, seu filho do meio, com 12 anos cuida do caçula de cinco. Pelo menos é o que Seu João espera. Há uma semana, passou mal no trabalho e voltou cedo para casa, e teve que arrancar um cigarro da boca do menino de 12 anos.
O delegado berra aos ouvidos de Seu João. Diz que a culpa é dele por não saber educar o garoto. De seu rosto ossudo e chupado, ele lamenta por não poder ter dado o walkman que seu filho pediu no aniversário de 14 anos.
Os dois outros filhos saem por volta do meio-dia. Passam na casa de uma vizinha onde o menor fica. O outro segue em frente, rumo à escola. A primeira aula é vaga, já que há um mês o professor de história saiu em licença médica e não arrumaram substituto. Enquanto senta no banco em frente à quadra, vê que começa uma briga. O funcionário da escola, há poucos metros finge que não vê a confusão. É quando chega seu amigo, que traz um baseado para compartilharem durante o espetáculo.
O filho de 17 anos de Datena pede trezentos reais ao pai. Afinal, ele precisa levar a namorada para jantar em um lugar legal e comprar um bom presente. Datena dá um sermão sobre o valor do dinheiro, mas entrega a grana, dá um sorrisinho orgulhoso e alerta ao filho sobre o uso de preservativos. Com cem reais, compra o presente e paga o jantar. Com o resto, pega seu carro e vai com dois amigos para uma favela.
Enquanto Seu João continua a ouvir o sermão. a namorada de seu filho chega. A menina, de 15 anos, está no seu quarto mês de gravidez e veio correndo quando soube. O delegado diz a Seu João que seu filho também está envolvido com tráfico de drogas.
E os mundos se encontram, o filho de Datena encontra o filho de Seu João. Leva um galo de maconha e uma bela porção de papelotes. Como não gosta de ir na boca, o menino sempre pega em grande quantidades. De repente chega a polícia...
Cada um sai correndo para um lado, o filho de Datena cai e é pego pela polícia. Toma três tapas na cara e ouve o moleque dizer: "Você não sabe com quem foi mexer..."
O filho de Seu João sai da favela e sai numa avenida. Vê um carro parado na rua e tenta roubá-lo para a fuga. Mas logo é preso e levado para a delegacia.
Após confirmar a paternidade do garoto, os policiais liberam o outro menino. Com a condição de que ele diga para pai que a cara inchada foi resultado de briga com a namorada ou queda acidental. O garoto aceita, já que seu pai não gostaria de saber que foi pego numa favela.
E Seu João abraça o filho... Olha aí... é o meu guri... diz o homem, que nunca ouviu Chico Buarque.
E Datena na TV clama pela redução da maioridade penal.
Seu João queria que seu filho estudasse...
Mas o menino sente saudades da mãe... e do pai, que nunca está em casa.
Datena viaja com a família nas férias.
Seu João na folga, faz bico.
Datena quer justiça
Seu João só quer abraçar seu filho, acariciar o rosto judiado pelas mãos dos policiais. Quer colocar o menino no colo e acalmar o ódio que a criança sente do mundo.

Pense nisso.

Será que quando clamamos por justiça, não devíamos clamar por educação, por dignidade? Quantos "Seus Joões" não existem por aí. Quando uma Suzane não sei das quantas mata os pais a sangue frio, as pessoas se perguntam "O que pode ter levado ela a fazer isso? ela tinha tudo...". Mas quando o menino preto e pobre mata e rouba as pessoas o chamam de vagabundo, bandido, que merece ser morto. O jornalista mata a namorada e pouco depois está solto e ninguém apedreja sua casa. Não quero justificar o ato do rapaz que arrastou a criança, cruelmente. Tenho pena que ele não tenha tido as oportunidades que tivemos e nem a força de Seu João. Tenho pena que o Brasil seja um dos poucos países com uma legislação própria para crianças, jovens e adolescentes, que dia após dia é rasgada em praça pública.
Enquanto isso, Datena toma mais uma dose dupla de uísque.

10 comentários:

Anônimo disse...

ok! entendi agora... valeu por esclarecer!

ah! seu blog é foda, super conteúdo!

Descharth disse...

Caro Chaves,achei bonitinha a sua atitude de Chapolin Colorado ao sair em defesa dos coitadinhos e acho lindo o mundo em que você vive.
Mundo em que quem tem educação não comete crimes.
Mundo em que quem é de classe alta e branco não comete crimes.
Mundo de vila mexicana dos seriados de tv.
O dito dimenor(sim,ainda se fala assim na vida real,nas ruas,nos becos,nos bares,nas favelas e nos condomínios.)é de familia honesta e evangélica,teve suas chances,suas escolas,inclusive seu pai voltou a estudar para que o filho não desanimasse.O dimenor roubava porque é status e dá ibope entre seus amigos e paga suas cocaínas, e não por causa de um walkman ou tenis de marca.
O crime bárbaro cometido não é fruto da falta de oportunidades, e sim de um carater ruim.
Nem mesmo os que cometem roubos e assaltos estão a favor dos assassinos tal a natureza torpe do ato.
Esses aceitam matar quem resiste a um assalto, mas não aceitam que se arraste uma criança por Kms.
Sou morador de uma comunidade carente do RJ e vejo a realidade ao vivo,e não assistindo o Datena ou o Chapolin Colorado.
Talvez um dia você ou seu parente possa vir a ser vítima dos "adolescentes infratores" que só queriam um ipod ou seu celular e darão um tiro na sua coluna ou de um familiar seu e aí sua casinha de cristal irá ruir,suas intituições educacionais se tornarão as masmorras do rei, o Datena será seu guia e o Chapolin virá na forma do "diabo" e te dirá."não contava com minha astúcia".
Que pena... tão inteligente e ainda acredita em papai Noel...isso te faz mais imbecil que eu que apoio a pena de morte!!!

Chapolim disse...

Ninguém aqui sai em defesa de coitadinhos.
Só acho que mais do que dele, a culpa é nossa.
Não moro em comunidade carente, mas fiz trabalho social na periferia de São Paulo. Posso não ver "a realidade de perto", mas pude ver pessoas que graças à "educação" que você desdenha, se recuperaram.
Não entendeu que o moleque que fez isso é DOENTE. Todos se comovem com a síndrome de down da novela das oito. Ah sim, é bonitinho ver uma menina com limitações balbuciando frases para a Regina Duarte.
Mas ver um garoto que pode ter traços de esquizofrenia, paranóia e tantos outros transtornos psíquicos não nos causa nenhuma comoção.
A família pode ser honesta e o caralho. Mas o menino cresceu vendo crimes, é a realidade que ele conhece. Isso afeta a cabeça da pessoa.
Nós fazemos essa merda de mundo cão. Se descer mais alguns posts, vai ler sobre um amigo meu. Ele não era pobre, nem favelado. O mundo fez ele enlouquecer...
Ele não roubou, nem arrastou ninguém pelo carro. Ao invés disso, se jogou da janela de seu apartamento.
Pesquise um pouco sobre o crescente número de suicídios entre jovens.
A causa é uma só... a falta de oportunidades.
Não vou perder meu tempo falando sobre castelinhos de cristais e seriados mexicanos.
Enquanto isso, mais da metade dos jovens na Fundação Casa (ex-Febem) cometeram pequenos delitos, e ao invés de passarem por medidas socioeducativas e reinserção na sociedade, está com reincidentes, jovens com ficha corrida extensa. E aí começa o círculo vicioso. Com bons "professores", se tornam criminosos profissionais, e serão os mestres dos próximos pequenos ladrões de galinha.

Don Rodrigone disse...

meu caro Chapolim... que somos fruto do meio, isso é fato... mas até aí Hitler, Pìnochet, Bush... todos são assassinos frutos de seus meios doentios... isso não ameniza culpa. Doente ou não, eles vão sempre indignar todo mundo com essa barbárie. Nós, classe 'mérdia' temos culpa? Sim. E não. Depende.

Chapolim disse...

Não estou amenizando a culpa de ninguém.
Só estou tentando mostrar que não adianta colocar um moleque de 16 anos na cadeia, enquanto o povo aplaude satisifeito.
Depois dele virão muitos.
O problema aqui é de educação, não de segurança.

Descharth disse...

No que se diz respeito a inércia reeducacional do sistema concordo com você.Mas de que adiantaria o melhor sistema reeducacional se no caso do menino de 16 anos ele sairia em 2?Teria tempo hábil para ser reintegrado?E em caso de reicidência como a do Chico picadinho? Deveriamos estender a estadia dele entre os vivos ou elimnar o que já se faz morto como ser humano?
Confunde-se com facilidade o bandido clássico que quer sobreviver com o sociopata psicótico incurável.
Cheira-se demais,fuma-se demais e o findar dessa orgias toxicomana é a morte de forma brutal e violenta de quem está apenas indo pra casa.
A realidade carente e miserável não sere de desculpas,fosse assim teríamos nas "comunidades" mais sociopatas que gente de bem.Te garanto que não chega a 1% a quantidade de degenerados em uma favela.
Em tempo. Presos da penitenciária de Bangu(onde tenho infelizmente alguns conhecidos que se perderam)já decretaram a PENA DE MORTE para os bárbaros assassinos.Nem eles aceitaram tal ato.

Chapolim disse...

Deschart, concordo como você que em dois anos é quase impossível recuperar alguém que chegou a tal ponto.
Mas sou contra a pena de morte. Estaríamos cometendo o mesmo crime desses bárbaros assassinos ao decidir sobre o direito à vida.
Mas sugiro que tentemos voltar um pouco atrás na vida desse cidadão. Se ao primeiro indício de atividade criminosa, ele tivesse sido enviado a uma instituição educacional compentente, e tivesse o acompanhamento de psicólogos e assistentes socias, suas chances de recuperação serima pelo menos cem vezes maior, e talvez nunca chegasse ao ponto de cometer essa atrocidade.
A miséria não é a justificativa para o crime, mas sim o ambiente onde ele se prolifera. Eu, aos 16 anos, estava no 2o colegial, e minha maior preocupação era escolher que carreira seguir, já que no ano seguinte eu prestaria vestibular. Às vésperas de prova me reunia com amigos que tinham a mesma preocupação.
Quantos amigos teriam chamado ele para estudar? E quantos o teriam chamado para roubar, fumar pedra e vadiar pela rua?
Além do que, o menor, participou do roubo, mas estava no banco dos passageiros. Não sei qual foi a reação dele, se tentou impedir, ou como reagiu. Estamos promovendo um linchamento moral de alguém que talvez apenas quisesse "roubar um carro" e viu seu comparsa arrastar uma criança de 6 anos por 7 km. O Diego, de 18 anos é quem foi o cabeça do crime. Esse sim tinha passagens anteriores pela polícia e estava em condicional. Então porque só se fala do menor?

Anônimo disse...

Meu querido Descharth!
Você não esta entendendo o que o Chapolin esta querendo dizer.
Quando uma pessoa não tem oportunidades na vida, como um estudo, um trabalho, ela vai procurar um meio de se entreter e ganhar dinheiro para se sustentar.
Ou se não vai procurar alguma coisa para se distrair... Hoje em dia as pessoas necessitam de OPORTUNIDADES, assim el vão ter força de vontade de lutar, caso contrario vão viver nessa merda !!!!

Unknown disse...

esse textO é muito bOm pq mostra as diferentes vidas q todo mundo é humano mais nem tudo é igual para todos datena um porco hipocrita enquanto ele chinga o ladrão comendo lixo, ele dorme tranquilho no seu flet de luxo comendo filé ele e seu filho viciado.datena sensacionalista,arrogante,preconceituoso,sem coração...

Anônimo disse...

Belo escritor, porém infeliz comentário, acho que vc deveria ao menos se informar de algumas coisas, conheço a família de Datena e sei de muitos problemas que eles passaram, problemas pessoais que com certeza vc não deve ter idéia já que fica na frente do seu computador fingindo um socialismo enquanto fuma o seu Marlboro. Ele teve um filho drogado, dependente de cocaína, é daí que vem a revolta com bandidos e traficantes, que usaram o seu filho e usam mais milhões de brasileiros para vender seus produtos ilícitos. Daí vem tanta revolta. Acho que vc deveria apagar um pouco seu cigarrinho e passar a enxergar o verdadeiro problema das pessoas, abra os olhos e veja o mundo como ele é. Já que defende tanto a causa socialista, leve um monte de traficantes, ou um monte de Seu João para morar em sua casa, ou mesmo, arrume um emprego mais digno para o Seu João, leve seu próprio lixo ao lixão, limpe as escadarias do seu prédio, limpe as ruas da cidade, ande de transporte coletivo e tenha um filho drogado....vamos ver o que mais te revolta, qual dessas coisas mais te revoltaria???? Acho que seu texto seria diferente né, mané.