A amizade

Domingão de leve ressaca. Acabei de assistir a corrida, o Felipe Massa ganhou, embora a lenda Michael Schumacher tenha mostrado a todos porque é o melhor do mundo. O alemão, em sua última corrida da carreira, resolveu fazer uma síntese dela. E foi, da agonia ao êxtase uma das melhores corridas dos últimos tempos na Fórmula 1, com o alemão largando em décimo, caindo para último e chegando em quarto lugar. Pena que não levou o título, que seria mais do que merecido.

Mas o assunto principal não é esse. Vou falar um pouco sobre amizade, esse sentimento que ninguém entende ao certo quando começa e quando termina. Não quero tecer comentários metafísicos sobre a amizade ou tentar entendê-la do ponto de vista dos filósofos gregos. Sei apenas que existe. E com o tempo, percebi que a amizade é um sentimento que está muito ligado ao ambiente onde floresce. Os botecos por exemplo são um dos terrenos mais férteis para o florescimento de grandes amizades.

Ninguém, exceto os funcionários, vão ao boteco para ganhar dinheiro. Vão para comemorar uma vitória, esquecer uma derrota, saudar velhos conhecidos, ou simplesmente para aliviar um desestressante dia de trabalho. Dessa maneira, ninguém tem a necessidade de competir com ninguém, derrubando uma freqüente barreira ao surgimento da amizade. Além do que, um dos primeiros efeitos do álcool é a euforia, que torna as pessoas mais amistosas e abertas a novos relacionamentos. Obviamente, há alguns efeitos posteriores do álcool que podem culminar em comportamento agressivo ou inoportuno, mas todos os ébrios são amistosos no início da noite.

Mais comum que o surgimento de novas amizades no boteco é o fortalecimento de amizades recém-concebidas. Vamos listar os principais momentos de um homem alcoolizado:

1- O bonachão: Feliz, conversa com todo mundo, e ri de todas as piadas.
2- O inoportuno: Diz que adora todo mundo, chora e diz dez vezes a mesma coisa.
3- Travado: Balbucia algumas palavras e só tem forças para levar o copo à boca.
4- Ressucitado: Tomado de incrível força, sai cambaleando, procurando o caminho de casa, com uma garrafa na mão.
5- Pudim de cachaça: Tombado em algum canto a espera do amanhecer do sol e da ressava vindoura.

O primordial numa amizade é a diversão. E no primeiro estágio, todos se divertem e dão risadas. Já o segundo é o mais delicado. Se ambos atingirem esse ponto no mesmo momento, tecem elogios uns aos outros e logo estão se consolando. Já no terceiro estágio, é comum que um deles trave antes. Cabe ao amigo, a tarefa de lhe encher o copo e cutucá-lo para que não durma. Eis que no quarto momento, o da ressureição, ambos se abraçam e dobram suas forças, cooperando entre si para atinjam o quinto estágio num lugar mais seguro. E no dia seguinte, ambos estarão curtindo juntos, o quinto momento tomando calados um café preto, sem açúcar na padaria mais próxima.

Quem já tomou um porre com um amigo, sabe o quanto isso fortalece a relação. Você sabe, que se um dia acordar de ressaca num puteiro sujo na periferia, que seu amigo estará no quarto ao lado, ou na pior das hipóteses, dormindo em frente à porta do inferninho. Dizem que cú de bêbado não tem dono. Se numa noite de sexta, o cara for visto bêbado dando o cu atrás da igreja, terá do seus amigos de porre no máximo o apelido de "arrombadinho". Mas esses nunca se negarão a ajeitar a sua almofada na cadeira do bar, mesmo gargalhando descaradamente. No entanto, ele nunca receberá mais o bom dia da vizinha, nem a óstia do padre.

Frase do dia:

"Só é meu amigo quem já bebeu comigo."